quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um bolo e uma festinha com música pra você!

Durante o almoço, conversava com uns amigos do trabalho.
Alguns eu conheço há quase um ano, alguns há poucos meses. Uns sabem mais sobre mim, outros menos.
Falávamos de sonhos.
Cada um contou uma loucura, um pesadelo, uma noite do tipo coito interrompido. Eu contei o desta noite:

“Sonhei que estava andando de mãos dadas com minha mãe pela rua, conversávamos, ríamos, nos olhávamos profundamente em silêncio por alguns segundos.
Entrei numa loja e ela ficou do lado de fora.
Eu me distraí. Fiquei lá por muito tempo.
Vieram me avisar que ela estava me esperando em casa.
Eu corri.
Quando cheguei, ela me esperava dormindo na calçada. Caía uma chuvinha fina. Olhei no seu rosto de sono pesado e a vi como há muito não via. Os traços, a boca que dizem ser igual à minha, o cabelo levemente despenteado. Mas era a minha mãe de muito tempo atrás.
Foi então que descobri que era sonho.
No mesmo momento pensei: vou acordar e ligar pra ela dizendo que tô com saudade. Me deu um alívio na hora, mas mesmo assim eu chorei até perder o fôlego.
Me esforcei e consegui acordar.”


_ E aí você ligou pra ela?
_ Não. Minha mãe faleceu há 17 anos. E hoje, 15 de outubro, seria o aniversário de 60 anos dela.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pregos e Parafusos

Os dias dos pregos e parafusos são muito confusos.
Chacoalham nas caixas de ferramentas e às vezes se cruzam.
Martelos e chaves de fenda os amedrontam, fazem coisas horrendas.

O prego perdeu a cabeça.
Se apaixonou pelo parafuso cego.
Sortudos.
Foram deixados em paz a enferrujar suas vidas.

Os amores entre pregos e parafusos, são sempre profundos.
E vivem o tempo dos metais.
O tempo em que os amores duram mais.

sábado, 11 de julho de 2009

Betinha parte 1

Betinha. Betth. Elizabete.
Tinha 22 anos e já há um ano havia acabado a faculdade de letras.
Não tinha namorado e nem emprego. E isto não parecia afetá-la de modo algum.
Dormia bastante e os pais observavam que ela até então não tinha feito nada de especial na vida e não parecia ser capaz de grandes feitos.
Mas tudo estava bem. Raramente o assunto “Betinha que não serve pra nada” vinha à tona. E quando surgia, acabava se diluindo em outras balelas do dia-a-dia.

Um dia uma simpática vizinha sentada à mesa com Betinha e a mãe.
Eram 11 da manhã.
Filha tomava café e comia um pão. Tinha acabado de acordar. A Mãe escolhia feijão para o almoço.
Vizinha perguntou toda interessada:
Você fez faculade do que mesmo, Betinha?” - E a mãe se adiantou - “Letras” - “Ahn... E quem faz letras faz o que?” - continuou a vizinha. Betinha se ajeitou na cadeira e disse - “Ah, quem faz letras pode fazer um monte de coisa”- A mãe fez um biquinho e revirou os olhos pronta pra ironia - “Pode fazer um monte de coisa mas engraçado é que você mesmo não faz nada, né, Betinha?”

A vizinha fez cara de “Ih, toquei em assunto delicado” e Betinha respondeu com sua cara de “Nem esquenta. Tô acostumada. Ela não sabe o que diz”.
Pra você ter uma idéia, Luiza – Luiza era a vizinha – Nem namorado ela anda arrumando. Outro dia veio um rapaz super bonito, legal, gente boa, todo simpático aqui. Era amigo do irmão dela. O rapaz se derretendo pra ela e ela bocejando. Disse que tava com sono e pediu desculpas pro moço dizendo “Amanhã eu acordo cedo. Me desculpe, mas tenho que dormir”... “Mentira, essa aí acorda depois que todo mundo!”

As três riram bastante.

Este moço havia mesmo passado por ali e estava de olho na Betinha.
Quando ele tomou coragem e se aproximou um pouco mais, eles estavam sentadinhos no sofá vendo a novela, Betinha quase lhe enfiou um garfo goela abaixo “Quer mais bolo?” e depois encasquetou de bocejar sem parar pra ver se o moço ia logo embora. Ele foi e nunca mais voltou. O irmão tinha dito dias atrás que ele tava noivo de uma moça muito bonita lá da turma deles.

A Betinha perde cada oportunidade, Luiza!”

Betinha revirou os olhos, deu um pequena bufada e encerrou o assunto com um “Ô!” .

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Mundo da fofura

Eu nem pensava se era feliz ou não. Só ia vivendo.
Tinha doce às vezes, tinha brincadeira, tinha o Bozo na TV.
Aí o tempo passou e me ensinaram que a gente tinha alma.

E neste momento o mundo inteiro, que até então pertencia a mim, passou a ter que se espremer e ocupar o espaço do meu corpo, que era bem pequeno. Que chato.

Um tempo depois, mais um baque: cérebro.
Aquela história de alma era balela. A gente existe no cérebro.
Que aperto. Eu ia ter que caber dentro da minha cabeça.
Meu deus! Mal dá pra me mexer.

Ali eu tive que crescer, entender as coisas da vida. Aprendi que não se congela carne com batata e que não se toma seis yakults de uma vez.

Um dia, por um motivo ou outro, a gente acaba tomando um remedinho pra dormir melhor e viver melhor.
Maravilha!!!!

O nosso mundo é livre outra vez!!!!
Ele rompe a barreira do crânio, se espreguiça e sai pela vida. Dançando e rodando.
Que delícia!

Os olhos se fecham e logo surge a placa:

Seja bem vindo ao mundo da fofura!

Um mundo com cantos arredondados, onde tudo dá certo, onde a gente tem crises de riso e se debulha em caretinhas e poses para fotos abraçados com os amigos.
E tudo pode!

Pode voar?
Pode!

Pode correr até o vizinho tesudo e bulinar ele?
Pode!!

Pode ganhar na Mega Sena?
Pode siiiimmm!!!!

Dá a impressão de que pra ser feliz é só querer.
E a gente chega a acordar com o próprio suspiro.

domingo, 10 de maio de 2009

Perde e ganha. Tem dias com rima e dias sem rima. E nunca sabe como vai ser.

Paro pra pensar
Por que eu não posso mais te encontrar.
Tenho saudades do seu cafuné,
e de manhã,
do cheiro do café.
Choro ao lembrar
de quando você vinha me beijar,
do “Boa noite”, do “Durma com Deus!
Escove os dentes. Não esquece de rezar.”
Mãe,
hoje eu sei mais que você,
mas ainda não deu pra entender,
por que cê foi embora.
Eu
fiquei sozinho pra valer
E foi difícil pra crescer
Tão longe da senhora.

Fecho os olhos e
te vejo lá
assobiando no quintal
pendurando os problemas no varal
se preparando para o carnaval.
E lá vem você
toda cocota, tênis, mini-saia,
dizendo “Filho, nunca pare de dançar
e não desista, mesmo que o mundo caia.”
Mãe,
meu mundo caiu, quando você partiu
e demorou pra se levantar.
Queria
que você estivesse aqui
pra ver tudo que eu aprendi
e ver o que eu faço de melhor.
Acho que você ia gostar
de me ver sorrir, cozinhar e dormir.
De me ver cuidar dos meus irmãos maiores que eu,
de me ver me importar com os outros, me ocupar em ser bom.

Nos meus sonhos mais profundos
você tá sempre por aqui,
e se desculpa por ter deixado a gente.
E eu digo “Relaxa, mãe,
tem coisas que fogem ao nosso controle.”

Já houve dias
em que eu despertei assustado e
a primeira palavra do dia escapou de mim.
Eu chamei “Mãe!”
e no quarto só tinha eu.

Mas eu repito “Relaxa, mãe!”
E completo
“Eu não tô sozinho não.
Tô sozinho no quarto agora
porque o Rafa foi preparar o café
pra trazer na cama pra mim.”

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Cinderelas

E não há o que segure. Quem segure.

Quando criança a gente vive momentos em que tem vontade de chorar mas não pode. Às vezes porque é contrariado, outras porque a mãe nos repreende na frente de todo mundo e nos faz passar vexame, outras porque um amiguinho diz algo que nos magoa.

A gente tem vergonha, respira fundo, arregala os olhos e faz com que engulam as lágrimas de volta. Sopra pra cima, faz biquinho e tenta mirar o ventinho pra secar a gota que ameaça se formar. Não quer chorar de jeito nenhum. De jeito nenhum.

Esses momentos são muito raros depois que a gente cresce. Raros ao menos pra mim. Porque pouca gente tem o poder de me fazer chorar, e porque quando quero, choro mesmo, que se dane! Não seguro mais.

Sou um banana. Choro por tudo.
Sorte a minha. Sou intenso.
E com a mesma naturalidade eu rio de tudo.
Tenho até uma mania incontrolável de terminar frases com pontos de exclamação. Melhor pra mim.

Ai, ai, ai. Eu, eu, eu, eu... que ego!
Mas só posso falar de mim, já que não saio por aí fazendo pesquisas pra saber o que as pessoas sentem, o que pensam.

Curioso foi que nesta semana um querido amigo, que o destino não deixa sair da barra da minha saia e nem eu da dele, me mandou um e-mail com um link. A mensagem dizia: “Veja e chore!”.

Ele se senta ao meu lado no trabalho, mas me conhece muito bem e sabe dar às coisas o valor necessário para criar as expectativas que fazem toda a diferença quando queremos dividir algo com alguém.

Susan Boyle, uma senhora de 47 anos. Britain’s Got Talent, um tipo de American Idol inglês. Para não me estender na descrição de uma emoção que em parte eu prefiro reservar para a escuridão dos meus olhos fechados, eu sugiro que assistam ao vídeo antes de continuar a ler o texto clicando aqui.

Quando assisti ao vídeo voltei a viver um daqueles momentos de segurar o choro e descobri que ainda não sou adulto suficiente para chorar em qualquer lugar, a qualquer hora. Senti um delicioso prazer em reviver esta sensação. Uma nostalgia saudável.

Me sento numa mesa com mais 4 pessoas e em minha sala tem mais umas 8. Pensei que se eu chorasse ia ter que explicar, ia ter que dividir isto com pessoas que iam zombar, ficar ridicularizando o vídeo, e eu já me sentia dono dele e estava decidido a protegê-lo de todas as babaquices. E isto realmente aconteceu depois que o link se espalhou pela sala. O que para mim era uma cena tocante, para alguns era apenas mais uma chance de dizer idiotices. É por isto que eu ando evitando dividir as coisas de que gosto. Ando ficando cada vez mais egoísta. Assim como não tenho mais falado sobre cinema com quase ninguém. Me dou o direito de me poupar de aborrecimentos. Ando evitando pessoas e situações que me brocham.

Susan Boyle me fez muito bem. Por vários dias foi minha inspiração para tudo. Para seguir esses últimos dias que não tem sido fáceis. Para não desistir. Pra tentar outra vez e outra vez e outra vez... Para respirar fundo e escrever as próximas linhas.
Tenho prazer em escrever, mas não imaginei que trabalhar com isto fosse me trazer dias tão turbulentos que me tirariam o sono... Se este blog fosse meu trabalho seria muito mais fácil. (Mas por outro lado, não seria desafiador.) Escrevo aqui sem medo, e se eu escrever alguma bobagem ou ficar uns dias sem inspiração, ninguém vai perder dinheiro e nem eu o meu emprego. Rsss... (Olha o diário!!!)

Há momentos em que a gente não quer só derrubar uma lagrimazinha. A gente quer é soluçar, chorar e chorar e relaxar os ombros e pender a cabeça, ter a sensação de se derreter.

Acho que o choro é um dos índices de plenitude da minha vida. Chorei nos momentos mais felizes e nos mais tristes que vivi. O caixão da minha mãe passando na altura dos meus olhos, o primeiro orgasmo com o amor da minha vida, a execução da nona sinfonia de Beethoven de pertinho... chorei, e certamente fui pleno, fui verdadeiro, e há um alívio muito grande em ser verdadeiro. Algo como dever cumprido. Não deve ser à toa que o choro nos alivia.

Obrigado Susan Boyle. Você nem deve saber, mas deve ter feito muito bem a muita gente. Obrigado por ser minha Cinderela. Espero que o seu baile não acabe nunca.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu odeio telefone

Domésticas, o filme”, o primoroso longa de estréia de Fernando Meireles, contém diversas cenas que nunca vão sair da minha memória. Por que são muito boas e porque vi o filme umas 974 vezes.

Numa das minhas passagens preferidas Quitéria introduz: “Tem coisa que eu gosto, tem coisa que eu não gosto, depende da coisa.” E tem início então uma cena memorável que eu adoro reproduzir entre os amigos.

“Tem coisa que eu gosto, tem coisa que eu não gosto. Depende da coisa.”

Como é simples!!!
E a gente enrola tanto!!!

Desde os meus 8 anos eu estou, de uma forma ou de outra, envolvido com arte. E aos 14 eu comecei com as chatices de achar isso e aquilo desta ou daquela obra. Um malinha. Chatinho. Chatinho com potencial chatônico infinito.
E assim se passaram os anos, me envolvi mais a fundo com arte, com teatro, com cinema, com literatura, comecei e terminei a faculdade (imagine quanta chatice adquirida nesses anos todos... que medo!) Analisei as profundas linhas de tudo o que passou por mim, porque aprendi que analisar e pensar sobre a arte é algo inerente à condição de ser pensante - e é o que se espera de um estudante de arte e literatura. E foi tudo muito maravilhoso.

Porém, logo depois de abandonar o mundo acadêmico eu fui reler um livro que adoro. “Morte em Veneza” e nesta releitura surgiu um clic, um bip, um boom.

O trecho dizia algo mais ou menos assim: A gente fica sempre tentando justificar com referências, citações e embromações os nossos gostos quando, na verdade, o que nos atrai numa obra é a simpatia que temos por ela.
Gostamos, gostamos mais ou menos, não gostamos. É simples assim. O resto é balela justificativa.

Eu gosto do Titanic, eu gosto de Fala Mansa, eu gosto – muito – de desenhos animados.
Não gosto de “Cidadão Kane”, não gosto do Miró, não gosto de Stravinsky. Pronto. Falei!

(Nesta pequena lista estão apenas as arestas dos meus gostos. No mais eu sou relativamente previsível.)

Dias atrás ouvi do meu sobrinho: “Eu adoro prateleiras”.

Bom... cada um na sua, né?

Eu odeio tefefone. Já fiquei meses sem atender ao celular. Era uma delícia. Pra me achar só mandando scrap no orkut.
É algo muito forte isto. Ouço o triiimmmm e já imagino que é alguém pedindo um favor, me cobrando uma visita, querendo desabafar, só querendo dizer oi... ai, que saco!

“E aí, como cê tá? O que conta de novo?”
As minhas respostas eram mais ou menos assim:
- Nada. Nada de novo.
-A mesma bosta de sempre!
- Me deixa!!!!
- Uma merda... E tende a piorar... Sempre pode piorar. “Nada é tão ruim que não possa ser piorado”, já dizia Falcão.

E o amigo fica um tempo sem fazer contato.

Preciso me controlar... preciso me controlar...

Tenho um amigo que adora dizer “Gôndola”. Ele fecha os olhos e vive um deleite sem fim. Goooondola.

Tenho um prazer mórbido de dizer na fila da Mostra Internacional de Cinema que acho o Felini um chato. Que os filmes tem coisas lindas, mas que no todo são chatos, com exceção de "Satyricon" e “A estrada”. O povinho culturets acha que é heresia digna de fogueira.

Queria ver o Leon Cakoff dizer que é doido por “Parque dos Dinossauros”. (Será que ele é e nunca disse ou eu nunca ouvi?)

Deve ser uma delícia se sentar ao lado de um grande amigo e passar uma tarde esborrachado na guia, uma tarde de melancia que escorre caldinho pelo cotovelo, brincando de listar o que eu gosto o que ele gosta o que a gente não gosta.

E este é um dos meus grandes prazeres: assumir as minhas opiniões, revelar algo sobre mim que às vezes as pessoas não esperam.

É inegável que há prazer em ser algo... ser... em se ver e gostar do que é. Vejo nisto tudo uma graça deliciosa... e gosto de mim, na maior parte dos dias.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Retratação

A mocinha queria ser atriz. Foi fazer o teste para entrar em uma famosa escola de teatro.
Ela era talentosa. Mas não foi selecionada. Desistiu. Foi estudar psicologia.
O rapazinho queria ser pianista, ficou nervoso na hora do teste. Hoje é bancário.
Aconteceu o mesmo com as bailarinas telefonistas, os acrobatas balconistas, e tantos artistas que acabaram sendo outros “istas” que não estavam entre seus grandes desejos.

“Não. Você não pode ser o que quiser. Não há espaço para todo mundo.
Lamentemos.”

Por sorte a modernidade tomou rumos inesperados e acabou criando saídas para que pessoas que desejam se expressar possam fazê-lo sem que alguém lhes diga: “Sinto muito, mas você não serve para isto. Procure outra ocupação, outra paixão.”

Abençoada seja a Internet e seu infinito espaço para todas as abobrinhas do mundo!!!!

No meu texto anterior eu tentei tratar um pouco disso, mas acho que fiz de forma meio torta e fui muito mal interpretado. Parte da falha é minha, grande parte, mas parte é da falta de malícia e ironia dos meus queridos leitores.

Eu adoro brincar com os opostos. Quando me refiro à Adriana Lima eu brinco: “aquela moça feinha”. Aí está a graça pra mim. É como uma careta simpática. Mostrar a língua pra pessoas queridas.

Os blogs são uma bênção. Não uma praga.

Eles são uma fuga, um diário, um modo de se exibir, de se expressar, de divulgar o que se produz. Ele é tudo o que cada um quiser. Não há moderação, não há seleção, não á portaria, não pedem antecedentes criminais, não fazem consulta ao SPC. É o paraíso!!

Graças a este blog eu pude dar o meu passo inicial – não sei qual é o destino – e graças a ele eu recebi apoio, críticas, elogios e cheguei ao meu atual trabalho, que me dá tanto prazer.
Imagine se eu tivesse que esperar a aprovação, a permissão de um editor que me dissesse: “pare” ou “continue”. Quem sabe eu tivesse mais uma amargura pra incluir na minha coleção... oh, vida! Ai de mim! São tantas amarguras. Tantas mágoas. Tanta cara feia, tantos nãos.

Continuo achando muito chatos diversos blogs, muito mal escritos, nada pertinentes. Mas acho maravilhosa a possibilidade de todos poderem escrever e colocar à prova sua produção. E mesmo que não seja produção, mesmo que não estejam à prova, mesmo que estejam se lixando para o que pensam, mesmo que seja apenas desabafo, diariozinho.

Parabéns a todos nós que vencemos a preguiça e o medo e postamos aqui e acolá o que pensamos, as historinhas que imaginamos, as coisinhas que ouvimos. Parabéns por fazermos a alegria deste e daquela outra, e por botarmos lenha na fogueira, por darmos um tapinha no mundo para não deixar que ele se renda à senilidade. Porque o mundo é velho. Se a gente não agir ele se acomoda.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A praga da década

Pior que os de insetos que causam prejuízos imensos aos agricultores, pior que a peste bubônica que acabou com 1/3 da população européia, pior que a lepra, pior que a roubalheira do governo que tira a merenda de criancinhas carentes.

É ele, o Blog.

Sim, é irritante esta possibilidade que as pessoas têm de dizer ao mundo (ao mundo mesmo!!) o que pensam.
E ela se torna letal quando associada à inclusão digital e ganha características de pecado imperdoável quando leitores de horóscopos – ou mesmo uns livros (que em muito se parecem com horóscopos) – resolvem ser escritores.

Nenhum ser metido a blogueiro tem lá muita autocrítica para perceber quando escreve mal, tem um papo chato ou muito - mas muito - desinteressante. E há ainda aqueles que escrevem “seje”.
Tanto texto ruim, ruim, ruim... infinito de ruim. Textos que têm doenças sem cura.


Que dor no coração!


Quero deixar bem claro que me coloco à disposição do julgamento de outro chato como eu, que tem todo o direito de dizer que eu sou mais um mala.

Porque as coisas são assim: Se você quer ter o direito de dizer/escrever o que quer, tem que se preparar para ouvir/ler o que os outros acham do que você diz/escreve.

Vamos lá. Aponte sua zarabatana envenenada e atinja em cheio meu pescoço! Cometa esta maldade, me magoe, acabe com meus sonhos, impeça que eu me expresse.


Na faculdade, em mais uma das memoráveis aulas do meu querido professor Joaquim Alves Aguiar, entramos na questão “gostar de escrever”, e me recordo dele ter dito: “Trabalho com literatura há quase 40 anos. Nunca me meti a escrever nenhuma linha de ficção ou poesia. Sou péssimo. Uma bisca de péssimo!” Ele dizia que se arrepiava todo quando um conhecido se aproximava e dizia : “Você gosta de ler, né? Vou te dar uns poemas que escrevi, uns contos”. E lá vinha uma avalanche de abobrinha, e poemas que rimavam cabeça com cabeça, Marina com narina, e por aí vai.

A grande questão, eu acho, é compreender que o estado de poesia, o estado de inspiração, pouco tem a ver com o ato de escrever.
Escrever não tem a ver com desabafar!

Ah... bons tempos dos diários com cadeado.

Imagine quantas pessoas apaixonadas estão suspirando neste instante; e se todas elas fossem escrever um poema quantos seriam dignos? E “digno” é a palavra ideal para um caso como este.

E tem também os filósofos.
Dentre as diversas espécies, há o marxista de bar, o anarquista de praça, o hippie de butique, o vegetariano ingênuo, os esotéricos meigos, os paulocoelhanos, e uma das mais perigosas formas de vida que já habitaram a terra: os adolescentes “politizados”.
Vira e mexe cruzo com um texto desses por aí, cheio de “tipo, meu, sabe, nossa, cara, tipo, foda, entende? Isso dos caras tal e, tipo... sei lá, eu não vou me render a este sistema sujo e vazio.” E um monte de coisa sem pé nem cabeça.
Vale lembrar que a adolescência pode ir bem além dos 19 anos. Beeeem além.


Escrevam! Podem escrever. Mas guardem os arquivos em pastas escondidas nos seus micros, please!

O que pretendo com estes comentários maldosos e prepotentes?

Desabafar. Falar das coisas sem que ninguém tenha perguntado a minha opinião.

Ser blogueiro não é mais ou menos isso?

Cá estou eu, oras!

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Rua Augusta

Ela era forte como pedra, mas como nada dura, nada dura.
Gritou bem alto "Eu sou a flor que só desabrocha na primavera desta cidade. De mais nenhuma outra!"

Começou a cantar e o vendedor de livrinhos de poesia parou pra anotar. O tiozinho da banca debruçou no balcão e abaixou a cabeça para ouvir com a nuca. A bichinha que passava também parou depressa, atenta, encostou no poste e ficou lá, com um risinho meigo apertado entre os ombros encolhidos.

"Eu
Sô loca do rímel
Eu choro e me borro
São lágrimas de amor
Negras
Tatuam meu rosto
Marcas do tempo
Da entrega sem pudor
Eu
Ando pela cidade
Esperança poste a poste
Me sento num bar
Solidão
Se senta comigo
Passamos a tarde
A rir e a relembrar
Solidão
Tão bem humorada
De tanto rir
Um dia me mata
Eu
Um dia cega
Me entrego a braços fortes
Por minutos de amor
O tempo passa
O amor se acaba
E ele me diz
"Sinto muito, baby!"
O que ele não sabe
É que eu prefiro
Uns minutos de suspiro
A uma vida blalalá
Retoco, retoco, retoco o rímel
E parto
Desvairada
Errando de novo, quebrando minha cara, fodendo minha vida
Pois acho que no fundo
O resultado
Da soma dos erros
Deve ser um acerto
E assim seguimos
Eu e os meus cílios enormes
Valsando na vida.
Um, dois, três.. um, dois, três
E damos uma voltinha"

Deu uma pausa. Respirou fundo. Silêncio.
Piscou, causou um vendaval e desapareceu.

O tio da banca roncava, o poetinha guardava a caneta no bolso e torcia o nariz, a bichinha aplaudia quase sem desgrudar as mãos.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Feliz, próspero e de anos novos.

Cheguei lá.
O dia 29 se tornou dia 30. Meu tempo de vida por aqui foi de 29 para 30 anos.
Haviam me prometido um eclipse. Mas acho que algo deu errado – não necessariamente errado.
Era pra ser uma loucura! ... 30 no dia 30. Uma vez na vida e nunca mais.
Mas foi um dia diferente. E não há lamento nisso, trata-se apenas de uma observação sobre o que acontece na vida.

Meu ano novo e aniversário sempre foram mais ou menos a mesma coisa, a mesma comemoração: como todo mundo sempre está desfrutando das férias, curtindo a ressaca do natal e se preparando para as cidras do ano novo, nunca houve muitos telefonemas, presentes e grandes festanças, mas eu sempre aproveitei e fiz do réveillon a minha festa. Daria até pra fingir que os fogos eram pra mim se eu fosse tão ambicioso. Rsss...

Neste ano foi tudo diferente.
Deve ser culpa do aquecimento global, que atordoa as estações, que muda o clima e acaba interferindo no tempo.
Meu ano começou antes. Lá pelo dia 15 vieram os fogos, as comemorações, as parabenizações, e o dia do meu aniversário acabou não tendo forças pra ter ar de feriado, ar de mundo em suspensão.
Nasci em Salto de Pirapora. E lá vivi uns... hum... 15 anos entre idas e vindas. E lá, no dia 30 de dezembro é feriado - emancipação, ou coisa assim. Nunca deu pra fugir muito deste ar ritualístico de passagem. A cidade parada, mundo parado esperando o ano que viria, minha idade mudando... expectativas, todo mundo em clima de festa, promessas, metas...
Desta vez foi realmente diferente.
Foi um grande dia diferente!

Passei o dia no clima da minha nova vida – que eu desejo que se estenda muito. De manhã houve um abraço e um beijo do meu pai, corpo a corpo - coisa que há muito não havia neste dia porque eu sempre estava longe, depois um dia de trabalho, e à noite uma surpresinha linda: o Rafa armou uma mesa com bolo, pãezinhos de cream chease que eu adoro, moranguinhos e pêssegos. Ele havia tirado os cabos dos morangos e os equilibrado cuidadosamente de bundinha pra cima pela mesa. Ao passo que íamos comendo os morangos, na toalha surgia uma machinha vermelha, como um beijinho. Beijinho de moranguinho. Parecia que a Xuxa tinha passado por aqui.
Totalmente sem querer... ele não armaria uma viadagem dessa e nem ia querer manchar a toalha. As surpresas são milagres. O inesperado é milagre.

Odeio dar ar de “lição aprendida/ lição ensinada” aos meus textos, mas tem dias que não dá pra fugir. Nem tudo se planeja. Nem tudo se pode controlar.
A questão é que muitas vezes eu espero as coisas erradas das coisas erradas. Dedico suspiros às bobagens erradas...
Para minha sorte as bobagens certas e saborosas sempre vêm e me fazem surpresas milagrosas...osas, osas osas.... e os adjetivos nunca acabam.

Dá até pra concluir que o eclipse dos 30 no dia 30 ocorreu. Um astro se pôs em frente a outro, escondeu um brilho comum e revelou um fenômeno incomum.