domingo, 30 de novembro de 2008

Macarronada Monumental

_ Alô!
_ Viu, queria te pedir uma coisa!
_ Diga!
_ Cê pode trazer um litro de leite quando vier? É pra fazer o molho branco.
_ Ok. Levo sim! Podexá!
_ Tá. Tchau!
_ Até!

Xi! Esqueci de perguntar se era desnatado ou integral!!

Ela tinha trazido da viagem à Europa um pacotinho de macarrão com formato de monumentos Italianos. Cada um de uma cor, vistosos - que pra mim tinham cara de doce de abóbora. Ah, tinham!

Pistache, castanhas, amendoim, vinho, cerveja, coca-cola... aguardando o macarrão e a salada. Até aí tudo bem convencional. Mas então eis que uma novidade brotou: chegou uma mocinha com um quibe vegetariano. Não, ela não disse que era vegetariano. Mas era sim. Eu sabia que era. Só podia ser.
Era uma mocinha com tudo longo. Um vestido longo, um cabelo muito longo e numa das orelhas um brinco de pena muito longa. Uma mocinha de uma beleza que só se pode ter até os 25 anos. Soube que tinha 27. Mas não importa. Só se pode ter esta beleza até os 25. Mas ela tinha 27!!!!! Não - im - porta! Há a idade do tempo, a idade do que se sabe e a idade da cara.
O rapaz que a acompanhava, simpático e agradável até não querer mais, trouxe um matinho que lembrava rúcula, mas que segundo ele mesmo, amortecia a língua. Ingrediente corriqueiro nos pratos do Amapá, sua terra.

Em seguida chegou o casal todo serelepe com a lichia.
Lichia? Sim lichia! Um sacão cheio!!
Nunca tinha comido lichia, e como tava demorando o tal macarrão resolvemos experimentar.
E um dá dica de que se tira a casca assim... outro diz que tem gosto que lembra isso e aquilo... E uma das convidadas preambulou..

_ Posso falar besteira?

Estes preâmbulos são sempre sinal de bomba, e há na história raríssimos registros de que receberam um não como resposta.

_ Pode!
_ Pode, claro!

Um bando de gente pervertida e curiosa! Claro que queriam ouvir! Ahahaha...

_ Dizem que tem gosto de (piiiiiiiiiii...)

Fez-se silêncio.
Um corou aqui, outro ali. Outro fez cara de nojo, outro levantou assustado a sobrancelha. Da boca de alguém deve ter minado água.
Até eu que sou meio boca-suja arregalei de levinho os olhos.

Teve gente que desistiu ali. Trauma forever de lichia.
Ela ficou toda culpada. Arrependida.

_ Que nada! Relaxa!

E veio a anfitriã..

_ Gente, antes de colocar o macarrão na água fervendo eu queria dar pra cada um de vocês um macarrãozinho de lembrança!
_ Eba!!
_ Eu quero o Coliseu! O Coliseu é meu!
_ Eu quero a Torre de Pisa!
_ Eu quero a Torre Eiffel!
_ São só monumentos italianos!!!!!
_ Ahn! Hum... então quero... quero... ( xi, ele não lembrou de mais nenhum!)
_ Ai, brigada!!! Eu vou guardar com carinho até juntar caruncho!
_ Vou ser bem honesto: tem legenda no pacotinho dizendo o que é o que? Isto aqui não se parece com nada!
_ Deve ser o mapa da Itália!

Falamos sobre a Itália, sobre viagens e é claro que a história da moça no banheiro do metrô veio fazer uma visita looonga ... rsss...
A vítima e a testemunha estavam presentes e queriam dar a sua visão do acontecido.
A vítima, já meio empolgada pelo vinho, começou a encenar o ocorrido. E por algum motivo tinha na mão um pedacinho de bambu... - detalhe pra deixar a cena mais non-sense. Para alegria deste que aqui escreve - e gesticulava pra cá e pra lá e gritava e esquecia que já passavam das 10 h. E corria pela sala e parecia uma baliza em frente à bandinha. Sem largar o bambu. E às vezes o girando nos dedos.

_ Xiu, gente! Daqui a pouco o porteiro interfona pedindo pra não fazermos tanto barulho!

_ Olha só que guloso!! Que pratão colorido! Vermelho, branco, verde, quibe!
_Quibe não é cor!
_ Olha só! Tá dizendo que seu quibe não tem cor definida!

Devia ser por conta da grande variedade do tempero.

Na festinha as pessoas faziam sua parte na mistura da noite. Um era uma fruta, outro uma massa, outro um tempero exótico, uma salada que dá barato, e o álcool dava a liga. Na medida certa. Todo mundo, é claro, querendo ser a folhinha que dá barato.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Se rebolar é viver eu vivo porque rebolo você.

Aquele solzão torrando meus ombros, o copo suado da cerveja pingando na minha barriga uma gotinha gelaaaaada... meu umbigo inundado...
Onda vai, onda vem.
Passaram por mim “Hermes de Biquíni”, passaram “As quatro bichas fantásticas”, “O senhor com o refletor”, “A pequena menina de 1,80 m”, “O feio que só tinha amigos bonitos”, “O Homem chorão”... Passou o mundo por lá naquele dia.
No cantinho havia “O tambor do ombrinho e do biquinho”.
Passou por lá o vendedor de bugiganga e eu comprei uma pulseirinha. Pedi para que o rapaz a amarrasse no meu braço direito, fiquei assistindo e sorrindo. Ele me perguntou:

_ Tá feliz, é?
_ É... Tô... E tenho certeza de que tem gente me esperando voltar pra casa com uma pulseirinha nova no pulso.

O Rafa não é lá muito de prestar atenção em detalhes. Mas acabou notando e dizendo num misto de elogio e deboche:

_ Hummm...Outra pulseirinha!!

Acho que no fundo voltei de Salvador meio árvore de natal, coberto por pulseiras e braceletes, anéis de mil brilhos, tornozeleiras, colares, tatuagens por todo o corpo e até tererê e rastafari nos cabelos que não são lá muitos.

Sempre que viajo à praia eu entro num clima caiçara. Acho um charme voltar pras terras de cá com um ar praiano, colarzinho, bronzeadinho, pulseirinha, tatuagem.
Semanas depois eu enjôo do colar, as pulseiras ficam fedidas, a tatuagem desaparece, o bronzeado some e eu volto a ser como antes.

Voltei com apenas uma pulseirinha de pano, mas a memória veio cheia de jóias.
A memória dos metais dura mais.

Estava lá sozinho, sem conversar, com tempo para observar.
E fiquei a observar, observar, observar... e a sorrir para as coisas e para as pessoas... das coisas e das pessoas... e a me emocionar com elas.

Sou um ateu de araque. E por isso vejo Deus em várias situações, em vários momentos.

Deus tava por lá. O vi de relance várias vezes se esgueirando pelos coqueiros, pelos pilares dos quiosques, servindo cerveja para algumas mesas. Caso ele exista mesmo, deve estar em lugares como este, e não nos mosteiros sombrios e escuros, castigando e punindo as pessoas. Acho mais provável que esteja ao lado dos felizes reboladiços e não ao lado das carolas preconceituosas e de coração peludo que são incapazes de um gesto de amor ao próximo.

Pelo que tenho ouvido das pessoas com quem falo pelo meu encanto com Salvador, todo mundo volta de lá “meio assim”... Eu acho que voltei “três quartos assim”... no mínimo.
Parece que lá houve um encaixe, parece que os meus botões se fecharam mais facilmente, escorregaram casa adentro, e eu fiquei alinhado, ereto.

Estou com a impressão de que Salvador é salvador mesmo. E eu que nem achei que estivesse precisando ser salvo nestes tempos.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Flerte com a ficção

Um vulto se aproxima e quase molha minha orelha:

_ Você é muito bonito, sabia?
_ Obrigado! - No susto, sempre rola uma simpatia espontânea.
_ Muito gatinho mesmo.
_ Obrigado! – Como quem diz “tá bom... já falou!”
_ Você tem um sorriso lindo! Um sorriso maroto... E essa barbinha então... Hummm...
_ Hãn! – Som de quem não quer conversa.
_ Faz tempo que eu to de olho em você.

Eu só sorri sem desgrudar os lábios e levantei as sobrancelhas como quem diz... “que coisa, não?!”. E ele continuou...

_ Você é de onde?
_ Sou daqui.
_ Daqui onde?
_ Daqui. Daqui. – Apontei para o chão. A impaciência estava escapando.

_ Você tem olhos lindos. Amendoados. Profundos. Ascendência oriental?
_ Não.

Eu com olhar dizia “Olha, sua abordagem é péssima e eu não estou a fim de papo.”

_ Eu acho que o olhar diz tantas coisas. Ainda mais olhos como os seus.

Pelo visto meu olhar dizia coisas que os olhos dele não ouviam. Sinestesia de araque!

_ Difícil conhecer carinhas assim, como você... simpáticos, agradáveis.

Meu Deus, mas eu não havia dito nada até então!!!! É o cúmulo da simpatia fazer cara feia, ficar em silêncio e ainda passar por simpático.

_ Coisa doida, né?
_ É. – A que ele se referia???
_ A gente se cruzar aqui, assim... Quem diria?

Eu e meu olhar incrédulo.

_ E eu que dava minha noite por perdida.

O cara viaaaaaja!

Uma das portas se abriu e chegou a minha vez de ir ao banheiro. Acenei com um gesto indefinido e parti.
Ao longo da noite nos cruzamos mais umas duas ou três vezes. Sempre via aquela cara “Olha eu aqui outra vez!”, “Mundo pequeno, hein?!”, “Pelo jeito o destino quer mesmo que a gente se cruze!”.

Os minutos correram. A noite e o álcool levantam todos ao mesmo nível.

Houve um momento em que por segundos nos olhamos mais demoradamente. Não sei o que me deu.
Sorriu pra mim. Um sorriso matinal na minha madrugada barulhenta. Um sorriso de cumplicidade que talvez tentasse dizer “Que loucura a nossa... aquele romance na fila do banheiro. A gente é doido, né? Noite doida!”

Romance? Mas ele estava praticamente falando sozinho.

E eu mal pensei e já amassei e joguei fora, testemunhando a luta do sensível contra o insensível... “Sim, noite doida!”.

domingo, 16 de novembro de 2008

Come back "Rossé"!

Na noite de ontem, véspera de uma prova terrível que teria hoje, eu, mais uma vez, dormi de janela aberta.
Tenho quase oito graus de miopia, tiro as lentes de contato pra dormir e dependo dos óculos pra saber que o mundo existe.
Deitado na cama ansioso e quase triste eu olhei pro céu e decidi fazer um pedido a uma estrelinha. Sou muito cético, mas tenho grande apreço pela beleza da poesia das superstições.
Sem os óculos não conseguia ver nenhuma estrela no céu. O sono estava chegando e eu morrendo de preguiça de esticar o braço e apanhar os óculos no criado ao lado da cama. Cheguei a cochilar. Acordei com o sustinho da vigília, decidi vencer a preguiça, pegar os óculos e fazer o tal pedido à estrelinha. Não consegui ver nenhuma. Mas fiz o pedido assim mesmo. Ao céu... ao léu.

Fiz o que pude na prova. Tinha muita coisa que eu sabia, que gostoso! Estudar dá nisso!! Rsss... Mas o pedido que fiz à estrelinha escondida veio a se realizar de uma forma inusitada no fim da tarde.
Demos um tiro no escuro e decidimos ver “Um dia sem mexicanos”. Tento ler sobre o que rola no cinema e tal, mas não me recordo de ter ouvido falar deste título.
O mais gostoso da festa, mais até do que esperar por ela, é não esperar nada e ter a grata surpresa de muita diversão.

Há alguns filmes que eu vejo, me debulho em lágrimas e fico em estado de catarse por algumas horas, às vezes por uns dias. Eu choro por mais de um motivo: choro porque me comovo mesmo com a história de vida dos outros, mas talvez haja um motivo mais forte... comovo-me porque sei que a obra de arte é o resultado do esforço de um ser humano. Não se trata de mágica. Não se trata de acaso. Um compositor se debruça nos seus pentagramas e cria uma música, depois mais de cem pessoas se juntam e, sob a batuta de um maestro, executam uma "nona sinfonia".
No cinema não é diferente. Centenas de pessoas se juntam e nos iludem direitinho nos fazendo crer que aquilo é verdade. Que coisa...

“Um dia sem mexicanos” é um filme divertidíssimo, surreal. Uma caricatura delicada e sensível da questão da imigração latino-americana nos Estados Unidos. A abordagem aparentemente despretensiosa da narrativa contribui muito para que a reflexão sobre a questão seja tão espontânea: de um dia para outro todos os latino-americanos, no filme chamados todos de mexicanos, desaparecem misteriosamente do estado da Califórnia. “Tragam meu chiuaua de volta!!” rá rá rá...
Tal acontecimento toma forma de tragédia e trás consigo toda a sequência de fatos que a acompanham, como a mobilização da população e exploração inescrupulosa da mídia. Ri muito. ( O gosto pelo espetáculo da desgraça alheia parece ser compartilhado mundo afora. Izabela que caiu da janela e Eloá que já não está mais por cá não me deixam mentir.)
Fez-me lembrar muito “O anjo exterminador” de Buñuel, em que ricaços se refugiam num cômodo de uma mansão acuados por “nada e por ninguém”, quem sabe flagelados da tragédia que eram suas vidas.
Talvez muitos de nós precisemos mesmo ver o fim das coisas pra então pensarmos sobre elas. Exemplos extremos costumam ilustrar com eficiência o nosso caricato modo de viver.

“Um dia sem mexicanos” tem um elenco desconhecido e um dos melhores que já vi na vida. Por que somos obrigados a ver sempre as mesmas caras? Que saco!!! Tanta vida, tanto frescor, tanta verdade... e o cinemão nos empurra goela abaixo o Tom Cruise outra vez, e a Angelina Jolie outra vez... e toda esta corja que deveria nos deixar descansar um pouco.

Pedi à estrelinha para que meu domingo fosse de sucesso. E foi. Compartilho da autoria das obras que admiro. São minhas e de mim ninguém tira! Viva eu! Parabéns pra mim!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Freud à tirolesa

As pessoas em geral são esquisitas. Umas menos, outras mais, e outras muito mais!!! Muuito mais!
O normal então é ser esquisito. Os que não têm esquisitices é que são estranhos. Coitados.

Adoro observar as esquisitices das pessoas. (E as minhas devem ser observadas. Com certeza.) Vou começar a andar com um caderninho. É lamentável que as impressões que tenho da gentarada que cruza meu caminho se percam no meio das lindas tralhas da memória. Um dia ainda escrevo a minha “Comédia humana”.

Há alguns anos, logo que tinha mudado de aparamento, uma senhora rabugenta foi bater à minha porta. Dividiríamos a garagem e ela “queria porque queria” que o seu carro ficasse sempre na frente do nosso, porque ela não ia dirigir carro dos outros e não sei mais lá o que de palavrinhas espinhudas e um hálito de café e cigarro junto com cheiro de roupa velha. Muito esquisita, um cabelo preto preto preto escorrido, uns óculos gigaaantes, uns braços muito peludos que acabavam em mãos escondidas por anéis foscos e pulseiras coloridas.

E eu respirei fundo e disse: “Qual o nome da senhora?”. E ela respondeu: “Aracnéia, e o seu?!”...............................
Olhei pra um lado, pra outro, para trás... provavelmente fosse acontecer uma coisa muito esquisita que revelaria que aquela cena não passava de um sonho. A pausa deve ter sido longa. Neste intervalo ela ajeitou os óculos com uma mão e com a outra levou o toco de cigarro à boca para uma tragada inquisidora. Esperava de mim uma resposta.

_ Basta deixar a chave do seu carro conosco, Senhora

Não ousei repetir seu nome. Será que eu tinha entendido certo???? A senhora do fusca azul se chamava Aracnéia????
Não ia cometer a indelicadeza de arregalar os olhos e dizer indignado... “O que??!!!”.
Fui polido. Mas quem me conhece sabe que diante de situações delicadas eu fico mais gago que o normal. E o “Basta deixar a chave” não deve ter sido tão fluente. Deve ter sido algo como “a... se se ssssnhora p ... p... pode de.. de.. deixar... a chave!”.

Nem o Google sabe algo sobre esta mulher. Ou sobre este nome. Nem o Google. Nem...o...Google.

Dias após eu indaguei à vizinhança e sim, era mesmo o nome dela. E todos achavam que ela tinha o nome da cara e a cara do nome. Que coisa... (quando eu digo “que coisa” é porque estou com vontade de colocar a mão no queixo, perder o olhar e me aprofundar no assunto, mas não me alongo para que o texto não fique maçante.)

Tinha um cachorrinho preto, velho, barrigudo, feio, feio... feio de doer! Tinha um tipo de sarna que parecia não ter cura e andava sempre com aquele negócio de abajur na cabeça pra não ficar se coçando.
Ele parava na calçada, ela andava uns cinco metros e quando sentia sua falta, virava pra trás, sorria e o chamava.
Ele ia, passo, passo, passo, passo. Quatro patas, quatro passos. Um de cada vez. E o quarteirão durava uma manhã.

Ninguém está livre dos olhos alheios e dos julgamentos mesmo que bem humorados e inocentes. “Freud gostava de se vestir à tirolesa”. Quando li esta legenda numa foto de um livro sobre ele, eu ri muito! Que esquisito!! Ahaahh...
À tirolesa!! Ahahaha...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A Palmeira contra o banquinho

Que coisa esta vida...
Ouvimos o dia todo, todos os dias, que as coisas andam mal, que tá tudo muito difícil e que antigamente é que as coisas eram boas, que a humanidade se aproxima do fim e que não há mais solução.

E mesmo diante de tal panorama, plagiando nosso barrigudinho barbudinho, “nunca na história deste país”... se riu tanto. ( Será que isso também é obra do governo do PT? )

Não tenho estatísticas em mãos e esta impressão é baseada nos meus achismos... mas não devo estar errado.

A cada dia mais pessoas têm acesso à informática e à internet.
A palavra mais procurada no Google é “sexo”.
As pessoas costumam apreciar conteúdo erótico no computador quando estão sozinhas. As pessoas vivem cercadas de outras pessoas e vivem no computador. Não estão, portanto, vendo pornografias e afins o tempo todo. ( Vale lembrar que algumas até trabalham! )
O que estão fazendo então?

Estão rindo da Maísa no youtube !!!!!!!!!!!!
É claro!
“Maísa” deve ser a segunda coisa mais procurada no Google.

De qualquer forma, as pessoas talvez estejam sendo mais felizes. Minutos de felicidade, seja com prazeres sexuais - mesmo que solitários - ou rindo de bobagens, se somados, acabam dando muita felicidade.
Os chatos de plantão podem dizer: “Esta busca frenética e descontrolada pela diversão e pelo prazer efêmero revelam a verdadeira insatisfação do homem com a sua vida.”
E eu vou dizer: “Avôa jacu! Tô nem aí procê!”, como diriam Las Bibas from Vizcaya.

Isso de viver pra procurar a felicidade plena, serena, eterna e etérea pode ser uma roubada. Vai que a gente não encontra! Vai que é invenção! Vai que só funciona para alguns!

Tenho um amigo tão tonto que eu amo!!! Ele vive me manando diariamente links interessantes, e 90 % deles são de abobrinhas deliciosas. Não é, Tiago?!

Dias atrás teve a festa (imaginária?) do filho da Marisa Monte, a Maísa dizendo “Vaca é sua mãe!” pro Silvio Santos, e uma surreal cena de assalto em que um rapaz invade uma loja e ameaça o proprietário com uma enorme folha de palmeira... e este, acuado em frente à caixa registradora se defende com o banquinho em que estava sentado e consegue expulsar o safado. Se fosse num filme ninguém iria acreditar. É pra rir muito!
Sem falar das dezenas de gafes e tombos dos famosos e anônimos.
Eu confesso uma certa queda por cenas de pessoas caindo.

A internet tem mais coisas maravilhosas além do poder de fazer rir. Sim, tem! O mundo tá lá ( aqui ). Tenho até medo.
Mas não quero entrar no mérito da questão agora, consciência!
Me deixa só rir por hoje, vá!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Com a macaca!

“Um fazendeiro cria galinhas e porcos. Num dado momento, esses animais somam um total de 50 cabeças e 140 pés. Pode-se concluir que a razão entre o número de coelhos e o número de galinhas é:”

E eu sei lá??!!
Deusolivreguarde!!! Eu passei uns três anos no cursinho pra entrar na faculdade. Aprendi bastante coisa... mas foi um saco! E achei que nunca mais fosse ter que estudar coisas chatinhas e difíceis outra vez!
E agora que me meti na história de prestar concurso tenho me deparado novamente com os numerozinhos que tanto me amedrontavam.

A razão entre o número de coelhos e galinhas é um banquete delicioso, oras!!!
Assados, fritos, cozidos... humm... Acho que só comi coelho uma vez na vida parece que era gostoso. Dizem que quanto mais meigo o bichinho mais saborosa a sua carne.
Mentira! Inventei isso agora! Rá rá rá... Imagina carne de golfinho, ou de coala?

Que meus amigos vegetas que não me ouçam ( me leiam )nem brincar com isso.

Prefiro mesmo fazer uma orgia gastronômica a ter que solucionar a questão de quantos pés vão pra cada bicho e a razão não sei das quantas!
Razão.
Que mania as pessoas têm de usar os mesmos conceitos para diversos campos!
Razão!
Daria pra pedir ajuda aos filosofets... Eles adoram falar das diversas acepções desta palavra. Alguns deles opõem a razão à imaginação. E eu aqui, na minha filosofia de brincadeira, fico retorcendo meus neurônios imaginando porque a matemática usa a “razão” sendo que ela é tão abstrata e ao mesmo tempo é lógica e real, e prática e conta com nossa capacidade de imaginar e... ai, ai, ai...

Lembro-me que no cursinho pré-vestibular tinha lá umas várias matemáticas e eu delirava... O professor pegava impulso e ia ladeira abaixo... passa pra cá, e este pra lá com sinal invertido e multiplica em “xis”, e simplifica e corta este com aquele e sem esquecer de resolver primeiro as potências... e tererê e burucutu e caixa de fósforo... e tcharam!! Pronto!

Pra mim nunca foi matemática. Era matemágica!

Ontem meu professor falando de torneiras e tanques e vazão não sei das quantas e no fim ele disse: “Pra facilitar você pode simplesmente fazer o seguinte: inverte, inverte, inverte, soma, e inverte o resultado!”... rá rá rá. Juro!!! Disse exatamente isso. E a classe riu!!! RSS.
Que bom, não estou sozinho nesta! Aleluia nóis tudo!

Quando me perguntam se eu gosto de matemática eu digo: “Olha eu gosto dela, mas eu acho que é ela quem não gosta de mim!”.

Acho a matemática linda. E acho que tem um ponto em que se aproxima demais da poesia, da arte, do que é divino no mundo. E isto de ser tão abstrata e tão concreta e real é o que mais me fascina. Pode ser que eu entenda tudo errado. Que não seja nada disso. Mas não importa. As coisas são o que vemos nelas e pronto! Me deixa!!!

Que saco!!! Ihhh.... (grunhidos!)
Tenho prova domingo e até lá vou serrar os dentes e grunhir muito!!!
Me deixa!

domingo, 9 de novembro de 2008

Ao ringue! E avante!

Mais uma vez o dia foi salvo pelo cinema.
Gosto da vida. Mas às vezes tenho a impressão de que gosto mais do cinema. Rsss... Ou talvez goste da vida porque lembre o cinema ou do cinema porque lembre a vida. Uma dialética deliciosa.

Com a maravilha dos infinitos canais de filmes da TV a cabo, acabo tendo contato com títulos que não passam por aqui. Com exceção talvez dos que pipocam na Mostra internacional de cinema de São Paulo. Mas muitos deles não entram em cartaz nem mesmo no circuito culturets de Sampa.

Como vejo uns três ou quatro filmes na semana fica difícil escrever uma quase resenha sobre todos eles dizendo o quanto me acrescentam e complementam o que o pão e água não dão aos meus dias. Mas vale a pena me esforçar e tentar.

Beautiful Boxer”, me deu bons momentos de felicidade. Mais um título que eu vou incluir na lista dos filmes para indicar aos que têm problemas com a própria sexualidade, ou com a sexualidade das outras pessoas. São filmes que todos deveriam ver... Os pais, os filhos, os que um dia terão filhos, os irmãos...
Devo tocar no assunto outras vezes e indicar mais títulos.

O que este filme tem de mais interessante e que o diferencia dos demais é que ele une universos antagônicos de uma forma deliciosa, delicada e com pompa na medida certa.

O que dizer de um adolescente em Bangkok que se percebe homossexual, que tem vontade de se transformar em mulher e que acaba por se tornar um lutador de boxe tailandês, sem, contudo, deixar as questões de sua sexualidade de lado?
Coisa absurda! De onde este roteirista tirou tal asneira? Quem poderia levar a sério este disparate de filme?!
Eu levei. E me deliciei. O filme é divertido e leve sem deixar de tratar com seriedade os sentimentos das pessoas e os seus conflitos. Surpreendente. De cara resisti, mas dois minutos depois relaxei e fui expectador: a minha função predileta em frente à tela do cinema. (no caso, da TV).

O curioso foi que hoje, domingo, 09/11, no intervalo dos meus estudos (sim, estou estudando até aos domingos!!) , eu comecei a ver um programa que adoro.. TABU. Que fala de... tabus, oras... Rsss... das diferenças entre culturas, ente pessoas que estão lá e cá dos meridianos, e às vezes sobre as diferenças entre quem está do lado de lá ou de cá da rua.
O tema deste dia era “Mudança de Sexo”. E blá blá blás super interessantes e tal. E chegam à Tailândia, Bangkok, e vão tratar do caso de um transexual que conseguiu o respeito das pessoas de uma forma diferente. Como fez isso? Percebendo seu talento para as artes marciais e se tornando lutador de Muay – thai. (Boxe - tailandês).

É mole?
Estavam falando do próprio rapaz do filme!
As cenas das lutas que eu tinha visto e que pareciam tão surreais eu agora estava vendo num documentário. Imagens gravadas há anos. O rapaz maquiado e acabando com seus adversários. Dezoito nocautes impiedosos.
Quando entravam no ringue, os adversários tentavam ridicularizar o rapaz todo delicado tentando beijá-lo no rosto. Ao final da luta ele, bem humorado e rindo à platéia extasiada, ia até o adversário e lhe dava uma bitoca.

Me fez pensar, mais uma vez, no mundo em que vivo. Um mundo em que as pessoas se importam com o meio ambiente, com a qualidade do ar, com o desenvolvimento sustentável, com o futuro das crianças, com as crises econômicas, com a violência... e ainda têm tempo de se dedicar a interferir na vida das outras pessoas. Têm tempo de se dedicar a atrapalhar a felicidade alheia. Saem de suas casas para votar contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Califórnia, fazem excursões a Brasília para fazer protesto contra a união civil de pessoas do mesmo sexo, enfim, dedicam seu tempo a aporrinhar a vida alheia. O que faz com que tantas pessoas tenham que entrar no ringue e apanhar e apanhar e lutar... e lutar. Um esforço gigante pelo direito de serem elas próprias.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Dois Bigo

Passei o fim de semana no interior matando a saudade da família. Fazia uns três meses que não os via. Teve formatura do meu sobrinho mais velho, teve escultura de papel maché, teve pizza, War, lavagem do carro com mangueira e direito e guerrinha de água - coisa impossível pra quem mora em apartamento. Teve passeio na feira, encontro com velhos conhecidos, sorvete que deixa a língua azul na pracinha e, por fim, a oportunidade de encher o pé de barro. Não poderia voltar pra casa sem essa, né?
Adoro barro. Rsss...

Passei a maior parte do tempo com meu sobrinho mais novo. O vejo tão pouco. Tô com medo que ele cresça e deixe de correr pra me abraçar, então tentei aproveitar.

Ri tanto!!! Demorei a conseguir explicar o que era irmã, primo, tio... rss... E ele também ria de tudo. O buraquinho no meio da barriga é “bigo”... e eu disse “É umbigo!”... e ele respondeu “Então dois bigo!”. Explicou-me a diferença entre sovaco e axila. Sovaco é quando é sujo, ( não depilado, talvez) e axila quando é limpo. O da mãe ele disse que era axila. Eu perguntei “E o meu, Rafinha?” “Hum... axila!” rsss... Deve ter ficado com pena de me magoar e dizer que o meu era sovaco.

Ele tá enorme, e me contou todo orgulhoso que já tava usando cueca “P adulto”. E assim que eu fui tentar carregá-lo, vi que não conseguia. E aí eu disse “É culpa da sua bunda P adulto!” E ele daaaava risada...
Fomos ao supermercado e ele queria ler tudo. E lia tudo mesmo, direitinho.

Minha irmã tava me contando que ele ouviu meu pai no telefone conversando e veio contar pra ela
_ Mãe, o vô vai comprar um terreno? Ele vai se mudar?
_ Não, ele tá comprando um terreno no cemitério.
_ Por que?
_ Porque já houve vezes em que a gente precisou fazer isso e fez correndo. É melhor se prevenir. Um dia ele vai morrer, eu vou morrer, você vai morrer.
_ Criança morre?!


Não deveria. Nem criança, nem mãe.

Ontem meu professor tava falando sobre atos administrativos impraticáveis e deu exemplos hilários. Entre eles um caso de uma província italiana onde o prefeito expediu um decreto proibindo as pessoas de morrerem porque não havia mais vagas no cemitério da cidade.
Que bom seria se fosse possível. E pra não soar tão absurdo a gente poderia restringir:
Não poderia morrer criança, e mãe só poderia morrer depois que os filhos já tivessem feito 40 anos.

Minha irmã e eu somos filhos de mães diferentes e as duas se foram. A dela quando ela tinha cinco anos, a minha quando eu tinha treze.
Vou sugerir que a gente apresente esta proposta de proibição de morte no congresso.
Acho que acaba sendo aprovada. Tanta coisa é!
Se o Estado tem que zelar pelo bem estar dos cidadãos, nada mais justo!

Mãe que perde o filho tem dores demais. E filho que perde a mãe “antes da hora” fica perdido pelo resto da vida. Para ambos eu acho que ocorre algo parecido com uma amputação.

Vou lançar a campanha e começar a recolher assinaturas.
Será que muita gente me acompanha?

O fim de semana em família foi maravilhoso. Eu, meus irmãos e meu pai nos damos muito bem. A gente só ri e se diverte quando se junta. Mas eu fico imaginando como seria se tivesse mais uma figura no meio desta festa. E imaginar é tudo o que eu posso fazer.
Que bom que sou ótimo em fantasiar as coisas como gostaria que elas fossem.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Bip

O tempo passa e a gente engorda, enrruga, mas continua mais ou menos a mesma pessoa. “Mais ou menos” porque além de nosso corpo se transformar - nem sempre pra pior - vemos e ouvimos coisas que nos botam um pouco mais pra lá ou pra cá. De certa forma somos o resultado da soma das coisinhas ou coisonas que já sentimos. ( Ui! ) O cinema faz muito isso comigo.

Ontem vi um documentário tão bonito.
Ando exagerando nos adjetivos de uns tempos pra cá, e agora “bonito” me parece algo tão novo, tão grandioso! Parece que é a primeira vez que o uso esta palavra. A medida certa para a ocasião.
O documentário de Irene Taylor Brodsky, “Hear and now” me fez viver mais um daqueles momentos do cinema que eu gostaria de compartilhar com todas as pessoas de quem gosto, mas que infelizmente, por falta de oportunidade ou de jacuzisse de algumas pessoas, acabo guardando só pra mim. Tem horas que me canso de tentar mostrar algo além dos filmes de sempre pra quem quer ver sempre os filmes de sempre. Que pena.

O documentário trata de um casal de senhores com deficiência auditiva que se submete a uma cirurgia para tentar ouvir o mundo. Ela no ouvido direito, ele no esquerdo. Detalhe? Tente descobrir.

O documentário apresenta conflitos que parecem ter sido importados de uma boa obra de ficção. E eu vou ter que me segurar muito pra não falar sobre eles! Tenho sempre um comichão que me cutuca nessas horas. Eu chego e digo: Não vou falar... Não vou falar... mas eu não aguento!!!! Respira, Leandro! Respira... Ai, ai, ai...

Há diversos momentos memoráveis no filme, mas um que me fez começar a choramingar aqui é quando o implante dos dois é conectado um mês após a cirurgia.
O médico aperta o botãozinho, diz "now", e a senhora dá um pulinho. O pulo de fora foi pequeno, mas o de dentro deve ter sido muito grande. Ela dá um pulinho e sorri. O mundo depois de 65 anos apresenta uma novidade assustadora a alguém que talvez não esperasse muito de sensacional nem dos dias nem das noites. Os olhos se enchem de água e a felicidade parece que vai escapar. E tudo o que ela ouviu naquele primeiro momento foi um “bip”.
Um “bip”.

Depois disso o mundo é outro. Inicia-se um novo período de somas.
As ondas têm som! O vento tem som!
Quem diria?! Quem iria imaginar? Nunca ninguém havia dito isso a eles!
Como puderam omitir? Como?!

Difícil para nós, que temos a sorte de ter nossos sentidos funcionando com eficiência, imaginarmos uma sensação como essa. Tô aqui tentando trazer esta coisa toda pra mim e me matando pra encontrar um exemplo que se aproxime, mas tudo de maravilhoso que conheço no campo das sensações parece pouco: a primeira vez que se come a carne com batata da tia Maria, ou o feijão da tia Eva. A primeira vez que se vê um quadro caprichado do Klimt, o centauro do Bourdelle, a suíte n. 1 do Bach, ou o primeiro “eu te amo” que o Rafa disse ao pé do meu ouvido.

Quando vivi estes momentos eu já tinha os sentidos funcionando a todo o vapor mas acredito que foram meus “bips”. Não chegam nem perto, imagino, do “bip” que baqueou a Sra. Sally Taylor, mas deram uma renovada no meu mundo. Foram fatores de alto valor na soma da minha vida.