domingo, 16 de novembro de 2008

Come back "Rossé"!

Na noite de ontem, véspera de uma prova terrível que teria hoje, eu, mais uma vez, dormi de janela aberta.
Tenho quase oito graus de miopia, tiro as lentes de contato pra dormir e dependo dos óculos pra saber que o mundo existe.
Deitado na cama ansioso e quase triste eu olhei pro céu e decidi fazer um pedido a uma estrelinha. Sou muito cético, mas tenho grande apreço pela beleza da poesia das superstições.
Sem os óculos não conseguia ver nenhuma estrela no céu. O sono estava chegando e eu morrendo de preguiça de esticar o braço e apanhar os óculos no criado ao lado da cama. Cheguei a cochilar. Acordei com o sustinho da vigília, decidi vencer a preguiça, pegar os óculos e fazer o tal pedido à estrelinha. Não consegui ver nenhuma. Mas fiz o pedido assim mesmo. Ao céu... ao léu.

Fiz o que pude na prova. Tinha muita coisa que eu sabia, que gostoso! Estudar dá nisso!! Rsss... Mas o pedido que fiz à estrelinha escondida veio a se realizar de uma forma inusitada no fim da tarde.
Demos um tiro no escuro e decidimos ver “Um dia sem mexicanos”. Tento ler sobre o que rola no cinema e tal, mas não me recordo de ter ouvido falar deste título.
O mais gostoso da festa, mais até do que esperar por ela, é não esperar nada e ter a grata surpresa de muita diversão.

Há alguns filmes que eu vejo, me debulho em lágrimas e fico em estado de catarse por algumas horas, às vezes por uns dias. Eu choro por mais de um motivo: choro porque me comovo mesmo com a história de vida dos outros, mas talvez haja um motivo mais forte... comovo-me porque sei que a obra de arte é o resultado do esforço de um ser humano. Não se trata de mágica. Não se trata de acaso. Um compositor se debruça nos seus pentagramas e cria uma música, depois mais de cem pessoas se juntam e, sob a batuta de um maestro, executam uma "nona sinfonia".
No cinema não é diferente. Centenas de pessoas se juntam e nos iludem direitinho nos fazendo crer que aquilo é verdade. Que coisa...

“Um dia sem mexicanos” é um filme divertidíssimo, surreal. Uma caricatura delicada e sensível da questão da imigração latino-americana nos Estados Unidos. A abordagem aparentemente despretensiosa da narrativa contribui muito para que a reflexão sobre a questão seja tão espontânea: de um dia para outro todos os latino-americanos, no filme chamados todos de mexicanos, desaparecem misteriosamente do estado da Califórnia. “Tragam meu chiuaua de volta!!” rá rá rá...
Tal acontecimento toma forma de tragédia e trás consigo toda a sequência de fatos que a acompanham, como a mobilização da população e exploração inescrupulosa da mídia. Ri muito. ( O gosto pelo espetáculo da desgraça alheia parece ser compartilhado mundo afora. Izabela que caiu da janela e Eloá que já não está mais por cá não me deixam mentir.)
Fez-me lembrar muito “O anjo exterminador” de Buñuel, em que ricaços se refugiam num cômodo de uma mansão acuados por “nada e por ninguém”, quem sabe flagelados da tragédia que eram suas vidas.
Talvez muitos de nós precisemos mesmo ver o fim das coisas pra então pensarmos sobre elas. Exemplos extremos costumam ilustrar com eficiência o nosso caricato modo de viver.

“Um dia sem mexicanos” tem um elenco desconhecido e um dos melhores que já vi na vida. Por que somos obrigados a ver sempre as mesmas caras? Que saco!!! Tanta vida, tanto frescor, tanta verdade... e o cinemão nos empurra goela abaixo o Tom Cruise outra vez, e a Angelina Jolie outra vez... e toda esta corja que deveria nos deixar descansar um pouco.

Pedi à estrelinha para que meu domingo fosse de sucesso. E foi. Compartilho da autoria das obras que admiro. São minhas e de mim ninguém tira! Viva eu! Parabéns pra mim!

Um comentário:

  1. Não por isso, Angelina Jolie está atendendo ao pedido que você fez à estrelinha e anunciou esta semana que deseja deixar o cinema aos poucos, filmando cada vez menos filmes até parar (cedo)! hehehehehehe. Mas então, essa satisfação que você aparentemente sentiu aí me comove mesmo. Especialmente porque eu adoro tê-la também! :)

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