terça-feira, 14 de abril de 2009

Eu odeio telefone

Domésticas, o filme”, o primoroso longa de estréia de Fernando Meireles, contém diversas cenas que nunca vão sair da minha memória. Por que são muito boas e porque vi o filme umas 974 vezes.

Numa das minhas passagens preferidas Quitéria introduz: “Tem coisa que eu gosto, tem coisa que eu não gosto, depende da coisa.” E tem início então uma cena memorável que eu adoro reproduzir entre os amigos.

“Tem coisa que eu gosto, tem coisa que eu não gosto. Depende da coisa.”

Como é simples!!!
E a gente enrola tanto!!!

Desde os meus 8 anos eu estou, de uma forma ou de outra, envolvido com arte. E aos 14 eu comecei com as chatices de achar isso e aquilo desta ou daquela obra. Um malinha. Chatinho. Chatinho com potencial chatônico infinito.
E assim se passaram os anos, me envolvi mais a fundo com arte, com teatro, com cinema, com literatura, comecei e terminei a faculdade (imagine quanta chatice adquirida nesses anos todos... que medo!) Analisei as profundas linhas de tudo o que passou por mim, porque aprendi que analisar e pensar sobre a arte é algo inerente à condição de ser pensante - e é o que se espera de um estudante de arte e literatura. E foi tudo muito maravilhoso.

Porém, logo depois de abandonar o mundo acadêmico eu fui reler um livro que adoro. “Morte em Veneza” e nesta releitura surgiu um clic, um bip, um boom.

O trecho dizia algo mais ou menos assim: A gente fica sempre tentando justificar com referências, citações e embromações os nossos gostos quando, na verdade, o que nos atrai numa obra é a simpatia que temos por ela.
Gostamos, gostamos mais ou menos, não gostamos. É simples assim. O resto é balela justificativa.

Eu gosto do Titanic, eu gosto de Fala Mansa, eu gosto – muito – de desenhos animados.
Não gosto de “Cidadão Kane”, não gosto do Miró, não gosto de Stravinsky. Pronto. Falei!

(Nesta pequena lista estão apenas as arestas dos meus gostos. No mais eu sou relativamente previsível.)

Dias atrás ouvi do meu sobrinho: “Eu adoro prateleiras”.

Bom... cada um na sua, né?

Eu odeio tefefone. Já fiquei meses sem atender ao celular. Era uma delícia. Pra me achar só mandando scrap no orkut.
É algo muito forte isto. Ouço o triiimmmm e já imagino que é alguém pedindo um favor, me cobrando uma visita, querendo desabafar, só querendo dizer oi... ai, que saco!

“E aí, como cê tá? O que conta de novo?”
As minhas respostas eram mais ou menos assim:
- Nada. Nada de novo.
-A mesma bosta de sempre!
- Me deixa!!!!
- Uma merda... E tende a piorar... Sempre pode piorar. “Nada é tão ruim que não possa ser piorado”, já dizia Falcão.

E o amigo fica um tempo sem fazer contato.

Preciso me controlar... preciso me controlar...

Tenho um amigo que adora dizer “Gôndola”. Ele fecha os olhos e vive um deleite sem fim. Goooondola.

Tenho um prazer mórbido de dizer na fila da Mostra Internacional de Cinema que acho o Felini um chato. Que os filmes tem coisas lindas, mas que no todo são chatos, com exceção de "Satyricon" e “A estrada”. O povinho culturets acha que é heresia digna de fogueira.

Queria ver o Leon Cakoff dizer que é doido por “Parque dos Dinossauros”. (Será que ele é e nunca disse ou eu nunca ouvi?)

Deve ser uma delícia se sentar ao lado de um grande amigo e passar uma tarde esborrachado na guia, uma tarde de melancia que escorre caldinho pelo cotovelo, brincando de listar o que eu gosto o que ele gosta o que a gente não gosta.

E este é um dos meus grandes prazeres: assumir as minhas opiniões, revelar algo sobre mim que às vezes as pessoas não esperam.

É inegável que há prazer em ser algo... ser... em se ver e gostar do que é. Vejo nisto tudo uma graça deliciosa... e gosto de mim, na maior parte dos dias.

4 comentários:

  1. Oi,Lenadro:
    "e gosto de mim, na maior parte dos dias".(entre muitas outras coisas de seu belo texto, gostei disso), sabe que eu tb me sinto assim, apesar de tudo....de todos...das escolhas..das não escolhas,da merda toda...
    bjs
    Concordo com tudo que escreveu, eta poeta.!!!

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  2. ...bem, só posso dizer..."Caronte, minha gôndola..por favor??!!".....rsrs

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  3. LEANDRO,LEANDRO, Leandro....desculpe-me.
    terrivel errarem o nome da gente.
    bjs

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  4. este texto me fez fazer algo q eu não gosto: fazer outra coisa enquanto ouço música. "outra coisa" sempre desvia a atenção e eu acabo não me concentrando no q mais gosto: ouvir música.
    mas ok.
    e eu também destesto tefefone. mas qdo ouço o triiimmmm imagino que é cobrança, telemarketing, algm procurando algm de casa q não eu rs

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