sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Let the seasons begin

Pois é... que coisa...
E cabia tudo num pequeno jardim. Tudo.
E as plantas ensinam o tempo das coisas.
A metáfora já gasta do “semear, regar e colher” ainda pode dar frutos... rsss...

Ontem vi “Muito além do jardim”. Um filme dos anos 70 que eu tinha o título na mente mas acho que misturava com outro que tinha jardim e achava que já havia visto.

Bom demais!

Na minha linha histórica do cinema há uma lacuna de décadas... 40, 50, 60, 70... Conheço bastante do que se produziu no início do século, e dos anos 80 pra cá. Acho que esta época esteve entupida de musicais e chatices que eu não gosto e por isso deixei de lado por puro preconceito.
De uns tempos pra cá tenho dado oportunidade a alguns títulos e tenho tido ótimas surpresas. "Chinatown", de Roman Polansky, é um filmão que não tem nada de supimpa no tema, mas que é uma coisa de doido de lindo e bem dirigido. E tem a atuação primorosa de Fay Danaway, uma das minhas atrizes preferidas.
E ontem, “Muito além do Jardim” me rendeu lágrimas, deleites e reflexões deliciosas.

Adoro quando as reflexões são fluentes. Não sei se dependem da obra ou da nossa predisposição. Recordo-me de um professor que tive na USP, o “Vilaça”. Logo no início do seu tempo de professor uma aluna toda espertinha perguntou a ele: “Professor, se a poesia é a excelência da linguagem, se é a melhor forma de dizer algo, porque é que nós aqui temos que ficar ainda discutindo e a analisando?”. Ele ficou sem resposta.
Uns anos depois, percebeu que a resposta era óbvia, e se odiou por não ter respondido naquela hora.
Pensar sobre o que se vê, se vivencia, é inerente à condição de ser racional... sensível aos estímulos do mundo.

Eu estendo este pensamento à idéia de que pensar sobre o que se vê pode não estar apenas relacionado ao exercício de racionalizar um momento, uma sensação. Acredito que ainda mais interessante seja a percepção do que se sente. A consciência da experiência.

Sempre digo que o que me chama demais a atenção na arte são as coisas que me deixam extasiado e que não são claras e óbvias de início. Adoro as loucuras do David Lynch, do Kieslovsky, do Greenaway. Estão além da arte representativa. Encenam muitas vezes sensações, sentimentos. Filmam o impalpável.

No filme de ontem eu logo nos primeiros minutos pensei: “hum... isto não é um filme. Isto é música.” E era mesmo! A maior parte do filme era música.
Música a gente deixa entrar, não pensa nas barbaridades, na interferência de um instrumento novo... e tudo caminha bem. E não é preciso entender, concordar, racionalizar.

Quase consigo envolver o filme numa esfera metafórica bem simples - clichê e simplista também -
Um jardim mesmo. Um jardim com música talvez.
Pode parecer conformista e pequeno. Mas talvez não haja melhor forma de fazer as coisas caminharem bem, caminharem tranquilamente, seguirem seu curso.

As estações vêm, a gente querendo ou não.

Não podemos controlar o mundo. Mas regar, adubar e podar nos períodos certos, sim. Ao menos o nosso mundo. O nosso dia.

Eu sei. Não somos plantas.
Mas... “Let the seasons Begin!”
Vou tentar ser mais jardim ouvindo a música que tem este verso num refrão. “Elephant Gun” do Beirut. Tô viciado!!

(O link !Elephant gun" leva ao clip no youtube. Mas ele não é bom acho que até atrapalha a música. Feche a janela e ouça só a música. Acredite em mim. Depois de ouvir a música ao menos uma vez eu deixo você ver o clip, ok? Rsss... Já o link da banda, "Beirut", leva a um vídeo e música maravilhosos. Confira!)

2 comentários:

  1. Você é a segunda pessoa que fala de Beirut ao meu redor em uma semana. Um amigo me indicou e mandou uma musica. Devo dar um chance? rs

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  2. Sim. Uma chance será suficiente pra fazer estrago. rsss.. aí voce fica por sua conta.

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